domingo, 6 de novembro de 2011

Jorge Amado


Jorge Amado

Estamos diante do escritor brasileiro mais lido e mais traduzido em línguas estrangeiras, deste século. Jorge amado nasceu em Piranji, no estado da Bahia, em 1912, ano em que se cozinhavam efervescências que encontrariam nele, homem feito, um porta voz brilhante. Não se pode falar de fazes quando se examina a obra de Jorge Amado, fase no sentido de amadurecimento, de orientação literária, mas é permitido descobrir-lhe fases de produção, em que os livros se seguem numa sequência de tempo, de regularidade impressionante. Assim, seus treze romances aparecem em estréia com O País do Carnaval, em 1932; Cacau, que alcançou seu primeiro grande êxito, em 1933; Suor, em 1934; Jubiabá, em 1935; Mar Morto, em 1936; e, finalmente, Capitães da Areia, em 1937.

A segunda série, vamos dizer assim, sem falar em fase, recomeçou somente cinco anos mais tarde, as Terras do Sem Fim, em 1972; São de Ilhéus, em 1914; e Seara Vermelha, em 1946, com uma regularidade bem marcada de dois em dois anos, quando a primeira série saíra com o intervalo de um ano apenas. 

Passam-se seis anos para Jorge Amado reaparecer com Os Subterrâneos da Liberdade, que é de 1952; o célebre Gabriela, Cravo e Canela, em 1958; Os Velhos Marinheiros, em 1961; Os Pastores da Noite, de 1963. Jorge Amado escreveu uma peça para teatro. O Amor do Soldado, e ainda um colorido guia turístico, que vai além do simples turismo e entra por considerações de ordem social, tendência tão marcada em toda obra desse eminente homem de letras. O livro tomou o título de Bahia de Todos os Santos. A biografia atraiu, de passagem, o escritor baiano, que escreveu O ABC de Castro Alves, biografia romanceada. Por fim, algo de menor suculência, como O Cavaleiro da Esperança. 

E como tivesse ido viajar, dar uma espiada, como ele diz, lá por fora. Jorge Amado nos deu O Mundo da Paz, onde relata impressões de viagem com aquela sua muito especial facilidade de expressão que faz o encanto maior da obra. Os livros de Jorge Amado estão traduzidos em trinta idiomas diferentes, que vão do francês ao persa, do servo-croata ao holandês, do mongol ao grego, ao árabe e ao esloveno, para citar somente os que representam uma raridade nesse plano da comunicação universal.

A meninice e a infância de Jorge se passaram numa fazenda de cacau, na Bahia. Os estudos secundários, ele fez em Salvador. Começaram no Ginásio os primeiros sinais de rebeldia, de vontade de dizer algo em termos novos, como o exigiam os tempos novos que apontava.

E aos 18 anos, precisamente em 1930, Jorge Amado muda-se para o estado do Rio de Janeiro, onde desembarca em plena efervescência. Matrícula-se na Faculdade de Direito, encontrando um clima perfeitamente desejado como moldura para o que seria dali para frente.

Ficção ou regionalismo eis como se pode situar a obra fascinante desse escritor.

Em 1961, Jorge Amado é eleito para Academia Brasileira de Letras com um bagagem literária notável. 

Desde 1955, porém, os grandes sinais de amadurecimento apareciam fixando aspectos de considerável expressão dessa obra tão variada quanto sempre viva e renovada. Seu discurso de recepção na Academia é dos mais belos que ali se produziram.

Contrariamente ao que se tem escrito, não nos parece que Jorge Amado deva figurar na corrente modernista dos escritores chamados mais precisamente de nordestinos. Colocado, geograficamente no centro do Brasil, o escritor baiano é brasileiro antes de mais nada, sem as limitações de um regionalismo menos liberto. Seu regionalismo não basta para fixar-lhe limites ou situá-lo em grupos ou escolar.

Em 1946, Jorge Amado foi eleito Deputado Federal na lista do Partido Comunista Brasileiro, fato que revela uma tendência político-social, aliás bem marcada, quando trata de miséria, do analfabetismo, da fome, do suor no Brasil e das injustiças sociais também.

Era o romancista brasileiro que pintava o Brasil nas cores que os estrangeiros querem ver: fortes, sensuais e tropicais.

Academia 

Ai veio a eleição do escritor para a Academia Brasileira de Letras, em 1954, exatamente quando se pensava que Jorge Amado não faria mais, doravante, que obras de apologia revolucionária em que os heróis eram fatalmente proletários e os burgueses os vilões da história.

Amado ocupou a cadeira de Otávio Mangabeira, autor de um discutido "Machado de Assis", em que resumia sofrivelmente a obra de grande autor de "Dom Casmurro". Nessa época, o crítico Wilson Martins, no "Estado de São Paulo", lembrava que Mangabeira havia instituído no Brasil em debate já encerrado em outros países: o de saber se o "Reader's Digest" é um bom modelo literário. Mas logo depois, Jorge Amado, voltou à vida literária com surpreendente vigor, produzindo "Gabriela, Cravo e Canela" (1958 e pouco depois "Os Velhos Marinheiros" (1960).

Essa ressurreição, no entanto, nunca impediu que alguns críticos vissem Jorge Amado como responsável pelo enxame de romancistas de um certo gênero que se multiplicou nas letras brasileiras. Mas ninguém é totalmente culpado pelas influências que exerce, e o novo escritor, o de "Gabriela" era pai de uma deliciosa narrativa em que a sensualidade punha a mesa. É verdade que "O Cavaleiro da Esperança", uma biografia heróica e fantasiosa de Prestes, chegava à sua nona edição, com mercado garantido nos grandes centros brasileiros. 

O mundo estava então ainda longe da "perestroika", e Amado distante do seu "meia culpa". Mas ele era, a essa altura, muito mais do que "um mero baiano romântico e sensual", como se havia definido no passado. Os excessos ideológicos foram uma doença mundial, e sua obra anterior garantia-lhe a justa fama de escritor.

Lirismo e Política

As primeira pinturas da vida baiana ("Cacau e Suor") valiam pelo lirismo, não pela aparência exterior de "romance proletário". Os amores minheiros que vieram depois (Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães de Areia") eram poéticos e algumas vezes muito fortes. Os livros de pregação política eram cansativos para quem não participava da "torcida" ("O Cavaleiro da Esperança", "O Mundo da Paz").  Os quadros da região do cacau foram, dos antigos, possivelmente os melhores ("São Jorge dos Ilhéus), Terras do Sem-Fim"). Mas são as crônicas de costumes provincianos que caracterizam o novo Jorge Amado ("Gabriela", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "Teresa Batista Cansada de Guerra", "Tieta do Agreste", "Tenda dos Milagres" etc.). Com 60 anos de produção, cerca de 30 livros escritos, quase todos traduzidos em cerca de 50 idiomas. Amado torna-se consagrado como um dos maiores autores brasileiros de todos os tempos.

A certa altura de sua vida e como efeito da extraordinária popularidade, que o cercou sempre, Jorge Amado viu-se forçado a escrever longe de sua casa em Salvador, na Bahia.

Primeiro em Portugal, depois em Paris, ele e sua companheira há 50 anos, a escritora Zélia Gattai, escreveram e trataram da edição dos seus livros. Amado em 1922 interrompeu o projeto de "Boris, o Vermelho", uma bem-humorada penitência do seu passado stalinista, para adiantar um livro de memórias que afinal não concluiu. "Navegação de Cabotagem" é qualquer coisa nessa linha, e chegou logo às livrarias. Um pouco adiante, nos primeiros dias de setembro, em 1922, seria lançado "Bahia Amado Amado", com trechos dos primeiros livros do escritor e a fotografia soberba de Maureen Bissiliat. Essa obra teve como substituto "O Amor á Liberdade e A Liberdade do Amor". Uma nova, uma antiga, sua eterna declaração de amor à Bahia, ao País em que nasceu, à Humanidade de que é observador e cronista incansável.


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