Acho que a
grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a
revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons,
os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é
um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve
impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por
princípios éticos. Pelo menos a sua passagem pelo este mundo não terá sido
inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa.
Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de
que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma
sistemática ação perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes
nomes.
José
Saramago, em “Folha de S. Paulo, Outubro 1995"